Rubens Amador

Pavlov e o jogo intrincado da vida

Por Rubens Amador
Jornalista

A vida é como a moeda: tem duas faces. É sempre um desafio, daí ser difícil ser humano. Tal como o espermatozoide que fecunda o óvulo na sua marcha genética, avançando sempre e assim cumprindo o seu destino, o ser humano entra pela vida sentindo as primeiras impressões que até há bem pouco não se ligava muita importância. Nossas primeiras dificuldades já surgem ao nascermos. De súbito passamos a sentir o frio, a fome, a dor, entre outras sensações completamente novas. Passamos a assumir a responsabilidade da respiração; saímos do silêncio confortável e tépido para a descoberta, às vezes traumática, do mundo dos sons e das temperaturas; de imagens variadas e novas que explodem em nosso cérebro como flashes incômodos. Por certo algumas dessas experiências nos instilarão o medo (outra emoção decisiva), que mais tarde poderá ser chamado de medo irracional, ante uma sintomatologia que passe a inexplicavelmente a afligir o ser humano.
As descobertas podem ser traumáticas e se condicionarem como um Reflexo Pavovliano, por quê não? Não será nesta fase que a angústia passa a fazer parte da grande carta da vida? Essa elaboração toda é que, ao meu ver, leva o homem das profundezas ao zênite. A imensidão ilimitada da mente é a chapa fotográfica que tudo registra, e cada ser elabora de forma distinta o material que recebe. Cada criatura responde aos estímulos, por uma série de reflexos. Pois bem, como outros grandes homens do passado que procuraram explicar os segredos da mente, desde Charcot até Lacan (passando por Freud, é claro), Pavlov tem sido, pela minha modesta ótica, um injustiçado. Parece que todos os seus importantes estudos sobre a reflexologia não têm merecido a devida importância. Teria sido a política, esta feiticeira que obscurece pessoas e teorias quando estes podem promover um destaque indesejado? Nos últimos cem anos só foram projetados os ensinamentos do genial semita Sigmund Freud. Porém, Adler e Jung não tiveram suas teorias mais estudadas. Eles são conhecidos apenas como discordantes de Freud. Não sei o porquê que seus estudos não foram aprofundados, mas deixados de lado. Hoje, nas universidades, não passam de meras referências.

Já a Psicanálise foi abraçada logo pelo cinema, pela mídia internacional. Freud teve sua teoria como entrecho de romances e alcançou o teatro. As teorias freudianas sobre o sono foram situações de que se aproveitaram grandes diretores para formularem seus enredos cinematográficos. E no mundo inteiro a Psicanálise é aceita pela maioria do círculo de médicos, como uma solução única. E Ivan Petrovich Pavlov, que nasceu na Rússia, ao tempo do Tzar, homem pobre, que vivia humildemente, filho de um sacerdote ortodoxo, mas um cientista notável que criou a teoria do Reflexo Condicionado, mas que teve seus estudos interrompidos com sua morte. De suas experiências com cães, onde após exaustivos estudos sobre glândulas que interagem na atividade cerebral, pouco se fala. Acho que o conhecimento humano não deveria esquecer, em nome da humanidade, dos seus estudos que lhe deram um Prêmio Nobel. Pavlov foi Prêmio Nobel.

Outros deveriam prosseguir, nas universidades, onde ele parou. Decorrido um século praticamente não houve evolução marcante nos enigmas da mente. A esquizofrenia aí está, estigmatizando ainda o homem desde as cavernas. O autismo idem. Pouco se sabe sobre a Síndrome de Down. Há muito o que se descobrir e mexer na alquimia cerebral. O próprio Freud, em seus últimos anos de vida, aceitava que dos medicamentos muito alívio poderia ser obtido pelos que sofriam. Aliás, acho que Freud permanece até hoje porque, sobretudo, era um homem profundamente honesto. Infelizmente, como a morte não é a última palavra, é de se esperar, pelo menos para mim, que outros estudos mereçam ser revisados até que a Grande Charada da Alma possa ser dominada com mais precisão.​

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